A Mentalidade Equacionária

o pensamento por exclusão

Natanael Pedro Castoldi
2 min readJul 23, 2021
The Treachery of Images, René Magritte

A mentalidade contemporânea, racionalista (nos termos de Oakeshott, 2016), é equacionária: formula-se um ideal abstrato, todo baseado numa lógica determinada, e se vai à vida real. O racionalista, que não conta com uma macroestrutura tradicional, já que rejeita aquilo que não resulta de “comprovação”, não pode fazer outra coisa que não polarizar opostos: ele assimila um ideal onde não cabe o seu contrário, o indesejado. Por isso a sociedade racionalista, não sabendo como assumir o estranho, o excluiu ou escondeu. A perspectiva equacionária é simplista: o ideal é uma liberdade irrestrita, de modo que aquilo que significa algum tipo de aprisionamento deverá ser anulado, já que não cabe na equação. Não há estrutura cognitiva contingente, que suporte em termos simbólicos e narrativos o novo, o acaso, o oneroso. Daí a leitura da pobreza como apenas um erro a ser corrigido e também o discurso pró-aborto, que com toda a facilidade pensa na anulação do agente perturbador da “liberdade”. Essa característica “matemática” também fica evidente na multiplicação lógica, a partir do pressuposto tomado como certeiro, das chamadas identidades de gênero — mesmo quando não exista nenhuma referência concreta, no mundo visível, dalgo daquilo que está sendo nomeado.

“Aquilo que significa algum tipo de aprisionamento deverá ser anulado, já que não cabe na equação”

Esse já é o natural cognitivo de muitos dos que estão mais avançados na jornada hipermoderna.

OAKESHOTT, Michael. Conservadorismo. Belo Horizonte: Âyiné, 2016.

Texto originalmente publicado em meu perfil pessoal do facebook em 22 de julho de 2021.

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Natanael Pedro Castoldi
Natanael Pedro Castoldi

Written by Natanael Pedro Castoldi

Psicoterapeuta com formação em teologia básica e leituras em história das religiões e simbolismo. Casado com Gabrielle Castoldi.

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