A Serpente e a Árvore da Vida
sobre simbolismo hebraico
Textos redigidos e publicados em 31 de junho, 24 de maio e 19 de novembro de 2021, no meu perfil em uma rede social.
#1 — A Árvore da Vida estava no Templo de Salomão, dentro da Arca da Aliança, simbolizada no Cajado de Arão, de madeira viva.
Não vou detalhar aqui a exaustiva pesquisa de Harold Bayley (A Linguagem Perdida do Simbolismo), mas alguns pontos são interessantes: árvores espinhosas sempre foram associadas com o Fogo. A Sarça Ardente de Êxodo era um tipo de espinheiro. No Egito, o espinheiro estava ligado ao deus Unbu e a acácia era a morada da deusa feminina Neith, da Morte. Entre os assírios, o espinheiro era “árvore de luz”, sagrada a Ashur, e na Arábia o lótus espinhoso era dedicado a Baal, que significa Altíssimo. Há uma antiga tradição que afirma que os espinhos da coroa mortal de Cristo, elevado no Madeiro, foram retirados de um espinheiro conhecido como “jujube”, também chamado de “spina christi”.
Há poucas dúvidas de que, na infância do Mundo, todas as coisas espinhosas ou pontudas de todo o Globo eram consideradas simbólicas do dardejante, irradiante e penetrante Fogo — Harold Bayley
Em diversas culturas, o eixo do Universo era considerado como uma coluna de fogo, uma espinha dorsal, um espinho, um bastão. A Coluna de Fogo que acompanhava os hebreus no deserto e que repousava sobre o Tabernáculo era um Axis Mundi, correspondente ao Flamejante Sinai, considerado como tipificado dentro do Templo de Salomão, em Jerusalém, onde a Fumaça da Glória de Deus, protegida pelos ígneos Querubins e iluminada pelo Altar do Holocausto e pelo Candelabro (uma representação da Árvore da Vida com Sete Frutos dourados ), “estacionou”.
O espinheiro tinha um significado simbólico ligado ao Fogo e a Axis Mundi, uma Coluna de Fogo, era às vezes pensada como um espinho ou um pilar de madeira. Outro símbolo do Fogo, e também do Sol, foi o Leão. Em hebraico, leão é laish e significa “Luz eterna” — sher é identificado com Ashur, senhor do espinheiro, ou da “Árvore da Luz”. No Apocalipse, Cristo, o Leão de Judá, é ligado à Raiz de Davi, bem simbolizada pela Árvore. O Leão sempre foi identificado com Judá, Pai do Leão (Judá teve cinco filhos e o quinto signo do Zodíaco é Leão). Há um antigo emblema que traz uma identificação do Leão com Judá por meio de cinco corações. Outro emblema antigo traz o Leão todo feito de chamas, traduzido como o Fogo Vivo. Um terceiro emblema traz o Leão com a juba coroada com um lírio, ou íris, e formada por raios de luz, portando seis flechas, que são os relâmpagos do Poder Divino, e um tridente, ou uma lança de três pontas, que é um emblema de poder e uma alusão à Cruz. Esse Cetro Real, com três espinhos e empunhado pelo Fogo Vivo, o Leão de Judá, liga a Cruz, o Madeiro, ao Espinheiro, a Sarça Ardente, que é um símbolo da Axis Mundi, a Árvore da Vida.
O Cajado de Arão, Sempre Vivo, é um símbolo da Árvore da Vida
O Cajado de Arão, Sempre Vivo, repetindo a transformação do bordão de Moisés em Serpente diante da Sarça Ardente, posto sob a guarda dos Querubins, que são Leões de Fogo, é um cetro prefigurador do Madeiro, um cetro real, uma símbolo da Árvore da Vida, que passa pela Cruz e renasce na Nova Jerusalém.
#2 — “Os carros de Deus são vinte milhares, milhares de milhares. O Senhor está entre eles, como em Sinai, no lugar santo.” Sl 68:17 — Segundo Stein Jr., o sentido original da parte final do versículo é: “O Senhor está entre eles, o Sinai está no santuário.” Esse entendimento ajuda a compreender que o Monte Santo, o Sinai, conhecido no Êxodo, foi reproduzido no Templo — o Templo era, pois, o Centro do Mundo e portador da Montanha Sagrada, Sinai por excelência. O Monte do Templo era originalmente um “tipo” do Sinai.
#3 — Dois emblemas antigos associam a Serpente macho ao leão-pássaro, também conhecido como Querubim.
Um deles, sírio-hitita, mostra Gilgamesh duplicado atuando como guardião de um santuário. Esse santuário é simbolizado como axis mundi, o pilar cósmico formado por uma serpente enrolada — o conjunto se refere à Árvore da Vida. No topo dela e acima de dois chifres está um sol cercado de quatro círculos que simbolizam os Quatro Rios do Éden e que são o sinal da totalidade cósmica — os Quatro Quadrantes do Mundo. À esquerda dessa cena, está o leão-pássaro, o Querubim, conduzindo o dono do selo. O Querubim segura numa mão um balde e na outra, a direita, um ramo. Após ele e o dono do selo vem a deusa, a Grande Mãe. Na base da imagem está um entrelaçado labiríntico, o Submundo. O balde, mais próximo do Submundo, simboliza a água e o caos criador. O ramo, erguido, parece simbolizar o espinheiro, símbolo do fogo e também da axis mundi.
O segundo emblema vem de Lagash e é de 2025 a.C. Ao seu centro estão duas serpentes entrelaçadas, o aspecto dual do Senhor da Árvore da Verdade, chamado de Ningizzida, a Serpente macho, consorte da Grande Mãe. Portando um bastão cada, há dois dragões, ou leões-pássaro (Querubins), guardando a Árvore.
A conclusão que se pode ter é a de que Querubim e Serpente estão desde muitos milênios simbolicamente articulados. O Querubim (ou um par deles) aparece aqui como guardador da Árvore da Vida. A função do Querubim é precisamente essa: cobrir/proteger a Glória de Deus (Ez 28), ou guarnecer a Árvore da Vida. De alguma maneira, Satanás desviou Adão e Eva da Árvore da Vida conduzindo-os à Árvore do Conhecimento. Contudo está claro no texto bíblico que ele, já caído do Céu, não estava no Éden como guardador da Árvore da Vida, mas como inimigo de Deus. Eu penso que são o Homem e a Mulher, Imagem de Deus, os “querubins” responsáveis por guardar e cultivar o Jardim, inclusa a Árvore. Mas tal como Lúcifer, o Querubim guardador da Glória, caiu, Adão e Eva, guardadores do Jardim, caíram. Quando a porta do Jardim foi fechada pela Espada de Fogo, significa que Adão e Eva, já não mais guardadores da Árvore, agora eram seus inimigos.
Como já argumentei aqui em junho desse ano, a Árvore da Vida foi simbolizada no Templo de Salomão, guardada na Arca da Aliança, no interior do Santíssimo, e guarnecida por dois querubins. Trata-se do Cajado de Arão. Como dito, Querubins são flamejantes, solares (leão-pássaro) e se a Arca e a Árvore são simbolicamente guarnecidas por eles, é natural que quem tocasse a Arca (banhada de ouro [símbolo do fogo]), padecesse fulminado.