Natureza Recompensadora
Entre macacos e homens
Estudando sobre a pré-história da violência humana, ainda no contexto do Eoceno Inicial (52 Ma), deparei-me com um pequeno trecho de grande impacto em minha imaginação:
“Talvez ainda mais importante que a hipótese predatória, a relação entre esses primatas e as plantas angiospermas deva ser considerada: incapazes de se reproduzir por meio da dispersão de pólen pelo vento, as angiospermas oferecem recompensas na forma de frutos adocicados, que, atraindo espécies comensais, as engajam em uma relação mútua” — Sobre a Paz (Fiori, Org.; Daniel de Pinho Barreiros)
… pode se aproximar da ideia de Cassirer sobre o “deus momentâneo”
Você não precisa ser evolucionista para entender essa relação biótica profunda e visceral entre os primatas (e mesmo o homem) e as árvores frutíferas, e das razões que inserem no Paraíso a ideia do Pomar e da coleta de frutos belos e suculentos como base de uma dieta despreocupada. Dentro da ideia de que a árvore de fato recompensa o homem por seu serviço de semeadora, dando-lhe seu fruto, fui remetido ao Éden e à tentação do Fruto, belo e saboroso, que, pela sugestão da Serpente, trazia consigo certas dádivas espirituais. O entendimento da “Natureza Recompensadora”, que presenteia e nem sempre é hostil, pode se aproximar da ideia de Cassirer sobre o “deus momentâneo”, que se avoluma aos olhos do homem faminto ou sedento quando da súbita aparição da árvore gorda de frutos vermelhos ou da corredeira cristalina, tomadas como manifestações hierofânicas no momento da maior necessidade.
Texto originalmente publicado em meu perfil pessoal do facebook em 7 de março de 2022.