O Castelo de Santo Ângelo
A súbita visão do Castel Sant’Angelo após a Ponte Sant’Angelo me foi análoga ao primeiro vislumbre do Coliseu. Ali, atravessando o Tibre, se faz o verdadeiro e derradeiro mergulho na Roma católica e papal, par em grandeza com a Roma imperial. De fato, pode-se pensar que aquela se instalou por sobre esta, não apenas por detalhes herdados da arquitetura colossal, mas na história mesma: o Castelo, que já era uma fortaleza militar em 403 d.C., integrando o limite noroeste de Roma junto da Muralha Aureliana, foi idealizado como um mausoléu para o imperador Adriano e sua família — notadamente um dos maiores proponentes da revitalização imperial do paganismo romano. Em 590, todavia, o Papa Gregório I afirmou ter visto o Arcanjo Miguel sobre o Castelo, em postura de batalha, e entendeu que ele vinha pôr fim à epidemia que assolava Roma na ocasião. Esse é o grande marco para o uso cristão da fortaleza.
Atravessando a Ponte e ladeando as imensas muralhas do Castelo, como a via principal para o Vaticano estava em obras, seguimos por uma rota alternativa, junto do e ao longo de todo o Passeto, que é um passadiço/muro que conecta o Castelo ao Vaticano. Enquanto seguíamos por ali, imaginei os papas que correram por aquela via, como Clemente VII, dos Médici, em sua fuga de Carlos V, sacro imperador romano, e Alexandre VI, dos Bórgia, para se salvar das tropas francesas de Carlos VIII.
Texto de minha autoria (como os demais deste canal) originalmente publicado em meu perfil pessoal do facebook em 23 de abril de 2024.