O Cristo Melquisedóquico

A Estrela de Belém e o nascimento do Rei do Mundo

Natanael Pedro Castoldi
4 min readAug 1, 2023

Com o raríssimo Sinais no Céu e na Terra: As constelações no Plano de Salvação, 1948–1982, de Wim Malgo, pude revisitar alguns estudos que conheço a respeito da Estrela de Belém. O argumento do autor se situa na demonstração de constelações astrais correspondentes a cada grande evento significativo da história de Israel, dentre as quais a tripla conjunção Júpiter-Saturno do ano 7 a.C. é a mais magnânima. Partido dos estudos de Wilhelm Wöhrle, indica a excepcionalidade do evento: Júpiter — a estrela do Rei da Justiça — e Saturno — a estrela do Sábado -, alinhados enquanto Estrela de Belém perfaziam um evento não visto em um espaço de 900 anos, que os sábios do Oriente souberam identificar com Israel, porque o signo de Peixes, no qual a Estrela de Belém de formou, era o signo regente da Palestina. A agitação na corte de Babilônia é indicativo de uma expectativa de virada de Era, disseminado o anseio por um príncipe da paz, um rei de justiça a governar sobre o Mundo inteiro. É possível que entre os sábios orientais ainda fossem conhecidos oráculos messiânicos de Daniel, assim como as profecias do pagão Balaão.

Segundo um certo Philbert, “O nascimento de Jesus Cristo, o grandioso acontecimento de uma ‘época de transição’ […], era — muito provavelmente — ligado com a ocorrência de uma ‘grande conjunção’ de Júpiter e Saturno, que se dá somente uma vez em séculos”. Philbert também explica que a tripla conjunção ocorreu com os dois planetas “dançando” dentro de uma mesma órbita visual, por isso se compreendeu terem performado uma única estrela, feita do maior poder — Júpiter — e do símbolo da realeza ocidental — Saturno -, como dito, no signo de Peixes. Por isso o rei de Babilônia teria encaminhado seus astrólogos para a Jerusalém com símbolos votivos de homenagem — incenso -, de riqueza — ouro — e de saúde — mirra. Se a corte de Babilônia se alvoroçou e decidiu financiar uma viagem de seis semanas para Israel, a corte de Herodes se alarmou sobremaneira, porque seus sábios conheciam a profecia de Miquéias.

É notável a associação da tripla conjunção Júpiter-Saturno do ano 7 a.C. (29 de maio, 12 de abril e 3 de outubro) com a tripla conjunção Júpiter-Saturno dos anos 1940–1941, coincidente com a Segunda Guerra e, como já dissemos por aqui, um sinal astrológico para H1tl3r e para o empreendimento n4z1st4, porque lhes convencia da emergência de uma Nova Era, a Era de Aquário, que de fato começou em 2020, com a última conjunção Júpiter-Saturno e a eclosão do Vírus — porque cada Era zodiacal possui uma média de dois mil anos de duração, sendo a Era de Áries, o carneiro, iniciada com Abraão e finalizada com Cristo, em quem se principiou Peixes.

… havia uma lenda que apregoava Moisés ter sido nascido sob a mesma Estrela

Para os israelitas, a conjunção da Estrela de Belém possuía ainda um segundo apelo, muito mais popular: havia uma lenda que apregoava Moisés ter sido nascido sob a mesma Estrela, de maneira que o Moisés Messiânico, do Tempo do Fim, naturalmente estava sendo anunciado de igual modo, e a emergência da Estrela de Belém em 7 a.C. afirmava aos olhos atentos que uma Nova Era estava para começar, porque havia sido nascido o Rei dos Judeus. O Rei Messiânico, nota-se, não era um mero descendente de Davi, mas um rei como Moisés, um refundador (isso está evidente nas expectativas qumrânicas das multidões que buscaram Cristo após a Primeira Multiplicação — João 6:14 / Deuteronômio 18:15), e mais, rei segundo a ordem de Melquisedeque, impregnado das antiquíssimas tradições do “Rei do Mundo” (porque esse é o sentido de Júpiter-Saturno). Se considerarmos esse ponto, ficam evidentes os usos dos evangelistas e apóstolos de termos romanos ligados ao Imperador Augusto, o César “Messiânico”, o Rei do Mundo uma vez entronizado em Roma e promotor da Pax e do Evangelho, ou a Boa Nova imperial. Por isso os cristãos, já muito primitivamente, assumiram a Écocla Messiânica, a IV, do poeta Virgílio, como uma profecia pagã, tal como a profecia de Balaão, para o nascimento de Cristo. O caráter popular dessa visão do Jesus melquisedóquico, o Rei do Mundo, é demonstrada por Robin Scroggs (O Jesus do Povo) na forma helenística do Cristo Cosmocrator, eminentemente popularesca entre os cristãos gentílicos.

Texto de minha autoria (como os demais deste canal) originalmente publicado em meu perfil pessoal do facebook em 1º de Agosto de 2023.

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Natanael Pedro Castoldi
Natanael Pedro Castoldi

Written by Natanael Pedro Castoldi

Psicoterapeuta com formação em teologia básica e leituras em história das religiões e simbolismo. Casado com Gabrielle Castoldi.

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