O Fórum de Augusto

Diário de viagem #4

Natanael Pedro Castoldi
3 min readMay 2, 2024
Foto tirada pelo autor do presente texto na virada 21/22 de abril de 2024. O Templo de Marte.

Tínhamos, sem sucesso, tentado chegar em tempo a uma loja que fica no Roma Termini e, agora sem pressa, retornávamos pelo caminho da Basílica Papal de Santa Maria Maior. Em busca de um bom lugar para jantar, adentramos por estreitas ruas e vielas tipicamente romanas, até que tomamos rumo pela charmosa Vie Della Madonna dei Monte. Ali, tímido, achamos um restaurante discreto chamado I Vaccinari e comemos pizza com vista à antiga Igreja de Santa Maria dos Montes. Tardando a hora, começamos a descer as ladeiras do Esquilino. Já tínhamos divisado num mesmo cruzamento os vultos distantes do Coliseu e das colunas do Fórum, fartamente iluminados à noite, e, decididos pelo Fórum, seguimos pela passagem da Torre dei Conti.

Foto tirada pelo autor do presente texto no dia 21 de abril de 2024. A Basílica à noite.

Não é sem razão que a área do Fórum, um gigantesco sítio arqueológico, está na chamada Via dei Fori Imperiali, que vem descendo pelos pés do Monte Capitolino até ao Celio, onde jaz o Coliseu. Ali estão, dentre alguns templos e mercados, os fóruns de César, de Trajano, de Nerva e este, da foto, de Augusto (mais especificamente -na foto- o seu templo). Sua história remonta a 42 a.C., quando Otávio Augusto prometeu erguer um templo dedicado a Marte no fórum que iria construir, promessa que passou a ter efeito após sua vitória na Batalha de Filipos, ocorrida no mesmo ano, quando, ao lado de Marco Antônio e de Lépido, pôde vingar o assassinato de Júlio César, seu pai adotivo. Esse templo faria parte do fórum que levaria o seu nome, mas que, após muitos contratempos, só pôde ser inaugurado, inconcluso, em 2 a.C. O fórum foi ampliado por Tibério em 19 d.C., mas passou a perder relevância com a construção do Fórum de Trajano, concluída em 112 d.C., apesar de sua revitalização no tempo do imperador Adriano (117–138 d.C.).

Foto tirada pelo autor do presente texto no dia 21 de abril de 2024. O Fórum de Augusto.

O Templo de Marte do complexo do Fórum de Augusto, e que se vê na foto, foi completamente destruído pelo rei ostrogodo Teodorico (493–526). O bárbaro o desmantelou para fazer uso de seus materiais. Apenas três colunas foram mantidas em pé, as três visíveis no lado direito da imagem (junto do título, acima).

Foto tirada pelo autor do presente texto no dia 21 de abril de 2024. O Templo de Marte.

Perambulamos pela Via dei Fori Imperiali até perto da meia-noite. Era aniversário de Roma, 2777 anos, e as estátuas dos imperadores haviam recebido flores. Na volta para casa, quando virava a hora, houve um foguetório no Domus Aurea, o antigo palácio de Nero no pico do Ópio, um esporão do Esquilino, e assistimos aos fogos desde a lateral do Coliseu, que fica logo abaixo. Dali, vendo os fogos subindo do palácio de Nero, me remeti ao grande incêndio de Roma em 64 d.C., que fulminou toda a área do Celio, inclusive onde está o Ludo Magno, e pude imaginar a vista de Nero desde as varandas, diretamente acima das labaredas — e de onde ora estávamos.

Texto de minha autoria (como os demais deste canal) originalmente publicado em meu perfil pessoal do facebook em 26 de abril de 2024.

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Natanael Pedro Castoldi

Psicoterapeuta com formação em teologia básica e leituras em antropologia e crítica literária. Casado com Gabrielle Castoldi.