O Testamento do Cordeiro

Uma exploração em escatologia

Natanael Pedro Castoldi
14 min readMar 25, 2024

Tendo, arrebatado pelo Espírito, como que chegado aos umbrais da Sião Celestial e sido encontrado por Cristo Ressurreto, o Filho do Homem (Dn 7:13–14), rodeado por Sete Candelabros, o apóstolo João é convocado à redação, segundo o que dizia o Verbo de Deus, das Sete Cartas às Sete Igrejas da Ásia, impregnadas de exortações escatológicas. O Filho do Homem está trajado de vestes sacerdotais — “vestido com uma única túnica e cingido à altura do peito com um cinto de ouro” (Ap 1:13) — , ostenta cabelos brancos como a neve, olhos flamejantes, pés brônzeos e de aspecto incandescente, voz de águas torrenciais, as Sete Estrelas na mão direita, da boca projeta a Espada e Seu rosto resplandece como o Sol, tal como Ele aparecera a Pedro, Tiago e o mesmo João da Visão na ocasião da Transfiguração (Mt 17:1–2). Diante d’Ele, João cai “como que morto” (compare com Dn 8:18), sendo por Ele reerguido:

Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, o Vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da Morte e do Hades. — Ap 1:17–18

Com tais palavras, o Senhor dá início à verbalização de cada uma das Sete Cartas, para que João as escreva. As Sete Estrelas são Anjos que Ele comanda, cada um deles cuida de uma das Sete Igrejas e cada uma das Sete Igrejas é uma “lâmpada”, representada ao Seu redor por um dos Sete Candelabros. A cada Estrela, ou cada Anjo, João entregaria a carta correspondente ao seu “Candelabro”, ou Igreja da província da Ásia.

Naturalmente, os primeiros destinatários do Apocalipse são os cristãos da Ásia, ligados ao trabalho do evangelista, radicado em Éfeso. Esses cristãos asiáticos, todavia, devem ser considerados uma amostragem ideal e tipificada de todos os “Seus servos” (Ap 1:1), ou de toda a Igreja dos Tempos, conforme o número simbólico Sete, repetido já diversas vezes. As Sete Cartas às Sete Igrejas são, pois e já de início, a aplicação imediata de toda a Visão de João: o que ele viu a respeito do que “deve acontecer muito em breve” (Ap 1:1) repercutia na vida das igrejas asiáticas, servindo ora como consolo nas perseguições, pelas quais algumas das igrejas são elogiadas, ora como motivo de repreensão, uma vez que outras igrejas pareciam ignorar a severidade da vocação de Cristo, sempre terminando com uma bênção ou promessa. Nas Sete Cartas o remetente, o Filho do Homem, aparece Se apresentando tal como se apresentara a João — “Assim diz o Primeiro e o Último, aquele que esteve morto mas voltou à vida”, Ele diz para Esmirna; “Assim diz aquele que tem a espada afiada, de dois gumes”, Ele diz para Pérgamo; “Assim diz o Filho de Deus, cujos olhos parecem chamas de fogo e cujos pés são semelhantes ao bronze”, Ele diz para Tiatira — , e reforça Sua posse dos Sete Espíritos de Deus e das Sete Estrelas quando Se apresenta a Sardes, como o fala para Éfeso: “Assim diz aquele que segura as sete estrelas em sua mão direita, o que anda em meio aos sete candelabros de ouro.” Todas essas imagens, chamadas “mistério” (Ap 1:20), assim como os elogios, os consolos, as exortações, as repreensões, as bênçãos e as promessas, lançam raízes na continuidade da Visão Celestial e das “coisas que devem acontecer muito em breve” — o que segue no Livro, por conseguinte, é a sustentação de tudo aquilo que se disse no começo.

Tem-se, portanto: Deus no Trono, os Viventes, os Sete Espíritos, o Mar de Vidro e os Anciãos.

No capítulo Quatro, depois de ter estado diante do Filho do Homem em Corpo da Ressurreição, João viu aberta uma porta no Céu e foi convocado pela Voz de Trombeta do capítulo Primeiro a subir por ela, ao que assentiu, sendo transportado pelo Espírito Santo. De pronto viu o Trono de Deus e Deus nele sentado — não ousa nomeá-Lo, mas o descreve na Glória: tinha aspecto de pedra de jaspe e cornalina e jazia envolvido por um arco-íris resplandecente em tons de esmeralda, e dele emanavam relâmpagos, vozes e trovões — a Visão de Ezequiel, Ez 1. O Trono era circundado por Vinte e Quatro Tronos, nos quais se sentavam Vinte e Quatro Anciãos, todos trajados com vestes sacerdotais, e diante do Trono ardiam lâmpadas de fogo, chamadas de Os Sete Espíritos de Deus, e entre elas, diante do Trono, e os Vinte e Quatro Tronos deitava o Mar Vítreo — a versão celestial do Mar de Bronze que estava no Templo de Salomão, e, em sentido cosmológico, as próprias Águas Superiores estabelecidas pelo Criador no Princípio. No Trono mesmo, como que o sustentando, no seu meio e ao seu redor habitavam os Quatro Seres Viventes, repletos de olhos, por dentro e por fora, e de asas e com aspectos semelhantes aos de animal e de homem — eles são os primeiros adoradores d’Aquele que está sentado no Trono. Tem-se, portanto: Deus no Trono, os Viventes, os Sete Espíritos, o Mar de Vidro e os Anciãos.

Os Anciãos são a contraparte do Templo Celestial ao Templo Terrestre, de Salomão, representando a duplicação ou a perfeição de Israel e espelhando — ou o contrário — as 24 ordens sacerdotais apresentadas em 1 Cr 24:4. Os Anciãos, portanto, são sacerdotes diante do Trono de Deus e realizam, no Templo Celestial, os ofícios sacerdotais. Aparecem igualmente em Daniel 7:9, onde são chamados Tronos, o nome apropriado da classe angelical que representam como príncipes-anjos (Cl 1:16). Os Tronos são assessores do Juízo Divino e aparecem na tradição judaica, conforme apresentada por Bin Gorion, como escribas que se assentam ao redor do Trono de Deus, conhecedores da Lei inteiriça. Cada um dos Tronos porta uma harpa e uma taça de ouro com incenso — pelas quais cumprem o ofício sacerdotal — e repercutem os louvores proclamados pelos Quatro Seres. O Trono, além do Mar de Vidro, puríssimo, está como que no Santíssimo no Templo Celestial, onde é guarnecido pelos Quatro Seres que, segundo Ez 1, são Querubim — os primeiros guardadores da Glória de Deus e os sustentadores do Trono. Isso nos remete à Arca da Aliança, no Santíssimo do Templo de Salomão, representativa do Trono do Deus Invisível e sombreada por dois Querubim — segundo o rabino Yisrael Ariel havia mais dois Querubim, estes colossais, no Santíssimo, dispostos aos lados da Arca e cujas longas asas principais se tocavam e iam de uma parede a outra do Santo dos Santos.

Esses Quatro Anjos são, também, aqueles que presidem ou governam o Mundo Físico, segundo as descrições cósmicas de Ezequiel 1, se estendendo desde a Terra até a base do Trono de Deus, porque cada uma de suas Quatro Faces (esse era o número de faces de cada um dos Viventes), voltada para os Quatro Cantos da Terra, estava sustentada por sobre uma imensa e altíssima Roda repleta de olhos — de cada Face saíam Quatro Asas e de cada Asa saía uma Mão. Suas Asas abertas, que se tocavam no alto, recobriam o Mundo, como vimo a respeito dos Querubim colossais do Santíssimo, e suas cabeças sustentavam o Trono Divino. Contidos nas Rodas, os olhos incontáveis, internos e externos, são uma representação da onisciência divina sobre a Criação e da intimidade interior do conhecimento de Deus de Si Mesmo, e louvam ao Senhor enquanto Criador — cada uma de suas formas (Leão, Touro, Homem e Águia) representa um dos princípios, os poderes ou as virtudes mais nobres da Criação (o régio, o forte, o sábio e o ágil). Pode-se ver um dos Viventes, com suas qualidades crísticas, na Visão de João do Anjo Cósmico de Apocalipse 10. Desde santo Irineu eles foram tornados símbolos dos Quatro Evangelistas.

… o Querubim estava além dos Serafim, depois do Altar e das Brasas, no Santíssimo.

Quanto aos Sete Espíritos diante do Trono, os vemos em Isaías 6:2–6, os quais, segundo a tradição, são chamados Serafim, de “saraf”, que é “queimar” e “incendiar” (é um serafim que põe brasa nos lábios de Isaías, retirada diretamente do Altar que está no Templo Celestial). Quando Ezequiel fala da Queda de Lúcifer, o Querubim, ele o descreve sob vestes sacerdotais andando entre as Pedras Flamejantes que estão no Altar do Monte Santo Celestial (Ez 28:14), o que é o mesmo que dizer que o Querubim estava além dos Serafim, depois do Altar e das Brasas, no Santíssimo.

A Visão das Sete Lâmpadas diante do Trono remete aos Sete Candelabros que João viu ao redor do Cristo sumo sacerdotal, o Filho do Homem, e foi o mesmo objeto da Visão de Zacarias, no capítulo 4, versos 2 e 10: ele esteve, em Visão, no Templo Celestial, despertado lá por um anjo, e pôde discernir a presença do Candelabro Celeste, o arquétipo do Candelabro forjado por Moisés, contendo as Sete Lâmpadas, ali descritas como os Sete Olhos de Deus, “que percorrem toda a Terra”. Os Sete Olhos de Deus estão tradicionalmente vinculados ao Espírito Septiforme de Isaías 11:2, que são as Sete Virtudes ou Potências do Espírito Santo, cada qual representada por um dos Sete Anjos da Face, os Serafim que estão diante de Deus Entronizado e que recebem as Sete Trombetas em Apocalipse 8:2. A tradição judaica conhece esses Sete Anjos da Face como os Sete Arcanjos de Deus, dentre os quais Rafael, conforme Tobias 12:15, quando este diz: “Eu sou Rafael, um dos sete anjos que estão sempre presentes e que têm acesso junto à Glória do Senhor” — isto é: estão no Santíssimo, depois do Mar de Vidro. Outros Arcanjos mencionados na Bíblia são: Gabriel (Dn 8:16, 9:21 e Lc 1:19) e Miguel (Dn 10:13 e 21 e 12:1 e Jd 9) — os demais, segundo os apócrifos, são: Uriel, Baraquiel, Sealtiel e Jegudiel.

Os Sete Anjos da Face são os anjos que Deus envia, percorredores da Terra e regentes das nações, assim como das igrejas, e dos elementos. Se os Quatro Seres se projetam desde a profundeza da Criação até a base do Trono do Senhor, guardando externamente os Confins do Mundo e, internamente, a Glória do Criador, os Sete Anjos da Face, conquanto estejam ligados aos elementos, estão principalmente comissionados ao tratamento das questões humanas — dos povos, das igrejas e dos santos. Seu olhar não é aquele da ciência universal, do conhecimento exaustivo, total e simultâneo de toda a Criação, mas corresponde à onisciência divina com relação aos homens e suas ações. Por essa razão, é aos Sete Anjos, as Sete Estrelas, representativos arquetípicos das Sete Lâmpadas, ou Sete Igrejas, que João entrega as Sete Cartas. O Satanás de Jó, que estava a “rodear a Terra” (Jó 2:2), pode ser pensado como um dos Anjos da Face, e não exatamente como um Querubim no sentido supracitado (até porque as definições se confundem), e foi “percorrando a Terra” com os Sete Olhos de Deus que ele percebeu Jó e levantou a Deus Entronizado dúvidas a respeito da envergadura da santidade do querido servo do Senhor. No deuterocanônico de Tobias, Rafael é aquele que lê diante de Deus o relatório das obras do Seu servo. Isso quer dizer que os Olhos de Deus, passando por toda a Terra, encontram os santos e os justos, assim como veem os ímpios em suas maldades — para a soma dos Cálices da Ira de Deus.

O Quarto capítulo termina com o louvor dos Seres Viventes ao Senhor enquanto o Criador do Universo, em consonância com as atribuições cosmológicas dos Querubim, e a cada vez que eles louvam, os Tronos se prostram ao Ancião de Dias, que está no Trono, e, depondo suas coroas aos Seus pés, O adoram, louvando-O na Sua condição de Criador de todas as coisas. O capítulo Cinco inicia, pois, com, tendo os Anciãos louvado, João percebendo um livro na mão direita d’Aquele Entronizado. É um rolo escrito por dentro e por fora, no recto e no verso, e selado com Sete Selos, à semelhança de um testamento romano, que era selado pelo testador sob sete testemunhas, cada uma impondo seu próprio selo, só podendo ser aberto pelo herdeiro do testamento quando da morte do testador e mediante as sete testemunhas, ou de representantes legítimos seus, que participaram da ocasião de seu fechamento. Os Sete Selos protetores sugerem que o exaustivo conteúdo do livro é de valor inextimável e ultrassecreto, além de certificarem de que nenhuma de suas partes sofrera qualquer modificação desde o momento de sua confecção e de que, portanto, o seu conteúdo é legítimo e de valor jurídico incontestável. Todavia, os termos do testamento, segundo a Lei Romana, só passavam a valer quando da ocasião de sua chegada ao destinatário e da abertura dos seus sete selos. O fato de o Rolo estar escrito dos dois lados, chamado opisthographo (remete ao Livro mostrado em Ez 2:9–10), evidencia transbordante conteúdo e quão superabundante é a Herança.

Cada um desses Sete Anjos é testemunha de um dos Sete Selos, de maneira que o Herdeiro está de posse das Sete Testemunhas…

O Anjo Poderoso, talvez aquele da Voz de Trombeta, irrompe uma convocação que ecoa por todos os Reinos da Criação — no Céu, na Terra e no Hades a voz do Anjo Poderoso foi ouvida, mas ninguém foi achado digno de romper os Sete Selos e abrir o Livro. Então, para consolar João, um dos Tronos disse-lhe que havia alguém digno: o Leão de Judá (Gn 49:9–10), Filho de Davi (1 Cr 17:12–14)— Ele Venceu para poder abrir o Livro e os Sete Selos, como o próprio Cristo já disse ao apóstolo: “Eu sou o Primeiro e o Último, o Vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da Morte e do Hades” (1:17–18). Nessa hora, quando um dos Tronos fala a João, o profeta vê no meio do Trono, após os Quatro Viventes e os Anciãos, o Cordeiro Imolado, dotado de Sete Chifres e de Sete Olhos, “que são os sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra” (5:6). O testador, Deus Filho e Verbo Criador, havia morrido, imolado, e o herdeiro da Herança, o mesmo que morrera, mas que venceu a Morte e tomou posse das Chaves do Hades, agora estava presente. Ele trazia consigo, como já trouxera na mão direita (1:16), os Sete Espíritos — os Sete Olhos de Deus como olhos Seus, dotado, pois, da Plenitude do Espírito e do domínio onisciente de todo o processo histórico dos Tempos e do Fim dos Tempos, já que tem posse dos Sete Anjos da Face (vide o simbolismo do Sete e do Candelabro, cujas lâmpadas simbolizam os Poderes da Semana e a Totalidade do Tempo). Cada um desses Sete Anjos é testemunha de um dos Sete Selos, de maneira que o Herdeiro está de posse das Sete Testemunhas e poderá abrir os Sete Selos, um por um. Como se vê na segunda repetição dos Sete Juízos, após a abertura dos Sete Selos, a cada Anjo foi dada uma Trombeta de Juízo e o toque de cada uma das Sete Trombetas (Ap 8-) é como a abertura de cada um dos Sete Selos de Juízo — dessa maneira, fica claro que cada Selo é dirigido ou tornado efetivo por um Anjo, cada qual dono de seu respectivo selo.

Há quatro repetições de Sete Juízos — os Sete Selos, as Sete Trombetas, os Sete Trovões, de Apocalipse 10 (sobre eles João não pôde escrever), e as Sete Taças da Ira. São repetições, ao menos as três principais sequências (Selos, Trombetas e Taças), de um mesmo ciclo de Juízo e em cada repetição os mesmos Sete Anjos são os agentes, respondendo ao comando do Cordeiro, que tem os Sete Chifres, que é Todo o Poder (Ap 16:1) — por isso Ele detém os Sete Espíritos na Face e na mão direita, aos quais primeiro enviou à Sete Igrejas, e por isso é Quem comanda todo o Juízo, enviando os Seus Anjos. Eles, Olhos de Deus “enviados por toda a terra”, regentes das igrejas e das nações, são as Sete Testemunhas dos Sete Selos, os que tocam as Sete Trombetas e os que despejam sobre o Mundo as Sete Taças da Ira de Deus, porque eles, que veem os justos, também veem os ímpios e todas as suas perversidades, donde os cúmulos da Ira Divina. Todavia, se as Trombetas e as Taças são repetições dos Selos, são sempre os Juízos decorrentes da abertura de cada Selo e representam os Sete Juízos que devem suceder à humanidade antes de o Livro ser efetivamente aberto.

Isso significa que a quase totalidade do Livro do Apocalipse não é exatamente sobre o conteúdo do Livro do Testamento do Cordeiro, mas sobre o processo de ruptura dos Selos e de todas as calamidades escatológicas a eles vinculadas — esse é o propósito do Apocalipse e a justificativa das cartas às Sete Igrejas, conforme o Prólogo, já no primeiro versículo do livro. O conteúdo do Livro em si só Deus o conhece, pois é o Livro da Vida, que será aberto depois de todos os Selos, ou Juízos, e ali estarão os nomes de todos os eleitos em Cristo — uma herança, a Herança conquistada pelo Cordeiro na Morte, verdadeiramente superabundante, que justifica o Livro ser escrito dos dois lados, por dentro e por fora. À luz do que vimos a respeito dos Quatro Seres, que têm olhos por dentro e por fora, isso quer dizer que no Livro há uma relação total e derradeira de todos os salvos, aos quais Deus, cujos Sete Olhos passam por toda a Terra, conhece pelo nome. Somos nós, pois, a Herança do Senhor, a qual Cristo conquistou quando Venceu, no Hades, a Morte que nos era devida. Isso torna o Apocalipse um livro de consolo e de fortalecimento: enquanto o Cordeiro Onipotente lança Seus Juízos sobre o Mundo, Ele nos conhece, sabe quem somos e onde estamos, e Ele, que tem os Sete Olhos de Deus, saberá nos encontrar e nos resgatar antes do Fim.

… o princípio do Juízo corresponde ao clamor da Igreja pela Justiça de Deus e pela Segunda Vinda do Senhor Jesus…

A Igreja é descrita em estado de tribulação ainda no capítulo Cinco, quando o Cordeiro recebe da mão direita de Deus o Livro. À destra de Deus Pai, no Trono, o Cordeiro Imolado é, então, adorado pelos Viventes, depois pelos Anciãos — quanto aos Sete Espíritos, eles estão na Sua mão direita, as Estrelas e os Selos, assim como estão na Sua Face, e são os Poderes que Ele detém para destruir o Mundo e salvar os filhos de Deus. Os Tronos estão em posse de cítaras e de taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. Essas orações, veja bem, estão subindo diretamente da Igreja que está no Mundo e que está a padecer de severas perseguições daqueles mesmos que mataram a Cristo . Isso fica mais claro em Apocalipse 8:1–6, quando do início do ciclo das Sete Trombetas, que é como o prelúdio da abertura dos Sete Selos: cada um dos Sete Anjos está preparado para tocar, cada qual ao seu turno, a sua Trombeta, então os incensos do culto da nação sacerdotal dos cristãos, que é feito de suas orações recolhidas de “toda a Terra”, sobem ao Templo Celestial, orações que são postas pelo Anjo em um grande incensário de ouro e levadas até o Altar para serem oferecidas como sacrifício “vivo, santo e agradável” a Deus. Depois disso, o Anjo enche o incensário com as brasas do altar e as lança sobre a Terra como sinal de Juízo, dando início ao toque das Trombetas. Nota-se como o princípio do Juízo corresponde ao clamor da Igreja, que está sendo martirizada, pela Justiça de Deus e pela Segunda Vinda do Senhor Jesus — quando Ele aparecerá rasgando os Céus como Leão.

Digno és tu de receber o livro e de abrir seus selos, pois foste imolado e, por teu sangue, resgataste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nção. Deles fizeste, para nosso Deus, uma Realeza de Sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra. — Ap 5:9–10

Eis, pois, o Cântico Novo, que é diferente do Cântico da Primeira Criação (Ap 4:11), que os Anciãos, portando os incensários com as orações dos santos e tocando cítaras, entoam em seu culto no Templo Celestial e que espelha o culto da nação sacerdotal que está no Mundo. Eles, os anjos-príncipes, louvam ao Cordeiro como quem saúda ao Imperador que chega da campanha — “Digno é tu” — e que agora vem, Cordeiro Imolado, para logo saltar sobre a Terra como Leão voraz. O Cordeiro é cultuado em círculos de adoração progressivamente maiores — os Viventes, os Anciãos e a multidão das Hostes Celestiais, calculada em milhões de milhões. Toda a vastidão incontável de anjos, pois, proclama a dignidade do Cordeiro Imolado de receber Sete Virtudes divinais: Poder, Riqueza, Sabedoria, Força, Honra, Glória e Louvor. Enfim, depois de as Hostes Celestiais também louvarem, a Criação inteira, que está no Céu, na Terra, no Fundo da Terra e no Mar, igualmente louva, proclamando a Soberania Absoluta do Cordeiro Imolado por sobre Tudo. Eis os graus de santidade, indo do Cordeiro no Trono, passando pelos Viventes, pelos Anciãos e pelas Hostes, para depois irradiar para todo o Universo.

CASTOLDI, N.

--

--

Natanael Pedro Castoldi

Psicoterapeuta com formação em teologia básica e leituras em antropologia e crítica literária. Casado com Gabrielle Castoldi.