A Nova Jerusalém e o Ano Platônico, ou o Fim como o Começo
E quem são os 144 mil
As Doze Portas da Nova Jerusalém, nomeadas segundo os nomes das Doze Tribos e vinculadas, cada qual, a um dos Doze Fundamentos, ou Doze Pedras, nomeadas segundo os nomes dos Doze Apóstolos do Cordeiro, devem ser as entradas dos 144 mil selados das Tribos de Israel. Doze Mil de Judá (Rubi), Doze Mil de Ruben (Sárdio), Doze Mil de Gad (Diamante) [a primeira fileira — Ap 7:5]; Doze Mil de Asser (Ônix), Doze Mil de Naftali (Jaspe), Doze Mil de Manassés (Ametista) [a segunda fileira — Ap 7:60]; Doze Mil de Simeão (Safira), Doze Mil de Levi (“Deus” [Gorion] — Dan [Turquesa]), Doze Mil de Issachar (Topázio) [a terceira fileira — Ap 7:7]; Doze Mil de Zebulon (Esmeralda), Doze Mil de José — Efraim e Manassés (Jacinto e Ametista), Doze Mil de Benjamin (Ágata) [a quarta fileira — Ap 7:8]. São Quatro fileiras de Três tribos, conforme o divisado no peitoral de Aarão (Êx 28:17–20) e a disposição de Três Portas para cada um dos Quatro Lados da Cidade (Ap 21:13).
Já sabemos que a solução de Quatro com Três é Sete e de Quatro vezes Três é Doze. Devendo-se considerar que cada grupo de Doze Mil Selados, ou cada Tribo, ingressará por uma das Doze Portas, podemos, primeiro, entender que as tríades entrarão, cada qual, por uma das quatro faces da Cidade — Judá, Ruben e Gad, pois, pelas Três Portas de um dos Quatro Lados, segundo Três dos Doze Fundamentos (Rubi, Sárdio e Diamante). O Doze (Quatro vezes o Três), por conseguinte, ingressará no Um (Quatro menos o Três) através do Sete (Quatro com o Três). Os pormenores das Pedras / Fundamentos e das Tribos correspondentes não têm ocasião aqui para serem destrinchados — até porque há a complicação dos nomes das pedras, de como aparecem no hebraico do Êxodo, de como estão no grego do Apocalipse e de como se encontram na tradição posterior, em Bin Gorion, por exemplo (e que foi a minha opção, para fins práticos). É importante notar a substituição de Dan por Levi e a fusão, como era no início, de Efraim e Manassés em José, donde são conservados os Doze, uma vez ocultado o Treze, como divisamos num estudo anterior.
… donde são conservados os Doze, uma vez ocultado o Treze…
Antes de prosseguirmos, todavia, há um detalhamento adicional sobre as relações numéricas do Quatro, do Três e do Sete, do ponto de vista do simbolismo. Há uma sentença de Fílon de Alexandria, citada por Edinger (Arquétipo do Apocalipse), que sintetiza toda essa faceta do tema:
Sendo composto como é de 3 e 4, é uma apresentação de tudo o que é naturalmente firme e reto no universo. […] O triângulo em ângulo reto, que é o ponto de partida para formas bem definidas, é composto de certos números, como o 3 e 4 e 5: 3 e 4, as partes constituintes de 7 produzem o ângulo reto […]. Agora, se o triângulo em ângulo reto é o ponto de partida de forma definida, e o fator principal neste triângulo — ou seja, o ângulo reto — é fornecido pelos números que constituem o 7, ou seja, 3 e 4 juntos, 7 seria adequadamente considerado como a nascente de todas as formas, assim como de cada forma permanente. […] Então augusto é a dignidade inerente por natureza ao número 7, que tem uma relação única que o distingue de todos os outros números dentro desta mesma década. […] É a natureza de 7 por si só, como já disse, nem para gerar, nem para ser gerado.
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Ainda em Fílon, em seus comentários a respeito de Gênesis, o Sete é entendido como o fechamento do Seis. Isto é: o Mundo foi criado segundo as propriedades do Seis, em Seis Dias, terminado no Homem, que é do Sexto Dia — por isso o Seis é “Número do Homem” -, e, concluído, foi investido por Deus do número Sete, que é a totalidade ou a universalidade da Criação. O Seis é número divisível e pode ser quebrado ao meio em um par de Três, por isso se refere à diversidade e aos aspectos quantitativos da Criação. O Sete será, por conseguinte, o Um acrescentado ao Seis, promovendo a unidade da Criação no seio do Absoluto, ou da Transcendência. Todo o simbolismo do Setenário é de envergadura cósmica, abrangendo e integrando o espaço-tempo em totalidades — Sete Dias, Sete Idades (segundo Sólon, séc. VI a.C.) e os Sete Planetas, que na Antiguidade eram entendidos como uma verdadeira Escada Planetária (o plano arquitetônico dos zigurates), a ser escalada pela alma ascendente, que ia se desfazendo, a cada Planeta, de seu respectivo elemento (prata [Lua], mercúrio [Mercúrio], cobre [Vênus], ouro [Sol], ferro [Marte], estanho [Júpiter] e chumbo [Saturno]), até ingressar, etérea, no Oitavo Degrau, na chamada Esfera das Estrelas Fixas, ou o Empíreo. Nesse sentido, o Sete é o número representativo da perfeição dos processos cósmicos. Enquanto totalidade da Criação, o Sete está contido no Oito, e aqui ele apresenta as mesmas qualidades simbólicas do Três, quando este é completado pelo Quatro — o Quaternário é a completude do Ternário enquanto símbolo dos três estágios do desenvolvimento da vida no tempo, inserindo-o e integrando-o no Transcendente. Donde o Quatro ser análogo ao Oito, a sua segunda série. Em idêntico sentido, a Trindade é Um Deus — a Unidade do Deus Trino é o “Quatro Oculto”, subentendido no Um por Ela constituído. Similarmente o Oito com relação ao Sete, quando este se integra ao Um — o Sete (Quatro com Três) dos Muros da Nova Jerusalém apontando para dentro da Cidade e para o Trono de Deus. A relação do Sete com o Um está clara já em Gênesis 1, porque o Um Dia é a unidade da Criação que, terminada, jaz selada pelo Sete. Por uma razão parecida, o Doze, que é a multiplicação do Quatro por Três, deve ser completado pelo Treze, como símbolo da sua integração ou da sua totalidade: os Doze Fundamentos da Nova Jerusalém estão, pois, estabelecidos sobre a Pedra Angular ou a Rocha, que é Cristo. Não é esta a mesma relação de Cristo com os Doze Apóstolos?
Similarmente o Oito com relação ao Sete, quando este se integra ao Um…
Tenha-se a perfeição do Quatro dada, de uma vez por todas, no Tetragrama Sagrado, YHWH. Mas há mais. Segundo a tradição apresentada por Bin Gorion (As Lendas do Povo Judeu), as Doze Tribos acampavam e marchavam no Êxodo segundo Quatro disposições de Três Tribos, posicionadas segundo a rosa-dos-ventos, cada trinca sob um estandarte, totalizando quatro estandartes, e em cada estandarte presentes letras dos nomes dos patriarcas: a bandeira do grupo de Judá (Fogo) continha as letras iniciais, a bandeira do grupo de Ruben (Terra) continha as segundas letras, a bandeira de Efraim (Água) continha as terceiras letras e a bandeira de Deus-Dan (Ar) continha as últimas letras, e como faltassem as quintas letras, correspondentes ao número de letras do hebraico para Abraão, Deus acrescentou uma letra do Seu verdadeiro Nome — note como o Cinco vem completar o Quatro, quando este se refere à realidade terrena (a integração dos Quatro Elementos estará na Quintessência, o nexo do Quaternário [os Quatro Lados da Nova Jerusalém convergindo na Praça] e da Cruz [foram contadas em Cinco as feridas de Cristo]). Foi dali que se teria conhecido o Nome “Jah”, composto por dois sinais — porque no hebraico valem apenas as consoantes. Em função desse princípio é que o Nome de Deus com três letras será ShDI, de “Shaddai”. O Pentagrammaton, o Nome de Deus com cinco letras, por sua vez, será YHShH (Yeheshuah) ou YHVShH (Yehowashah).
A representação da Nova Jerusalém como Sete e Doze, isto é: como a completude de todo o Tempo Cósmico e o seu fechamento, carrega analogias numéricas com o livro do Gênesis (5 a 7:6), indicando a coincidência do Fim com o Começo, com Sete com o Um, da Eternidade com a Eternidade. Tanto em Apocalipse 21:9–21 quanto no Gênesis temos a medida de tempo do Ano Extenso, do Grande Ciclo do tempo das Quatro Idades somado, simbolizado pelo número 432 (nos Puranas é 4.320.000 anos; na Edda Poética é 432 mil [540 x 800, que é a relação da saída de oitocentos guerreiros por cada uma das quinhentas portas do Valhalla para a Batalha Final — no Apocalipse nós presenciamos a entrada das multidões]). No Gênesis, esse número estará presente na lista dos Dez Patriarcas da humanidade, acompanhando a medida de seus anos: Adão, 130, Set, 105, Enos, 90, Cainan, 70, Mahalalel, 65, Jared, 162, Enoc, 65, Matusalém, 187, Lamec, 182, Noé, 600. O somatório dessas idades será 1.656 anos. A lista dos Dez Monarcas antediluvianos dos sumérios, de Beroso, atinge, no somatório dos tempos dos reinados, 432 mil anos. 1.656 e 432 mil têm o mesmo fator: 72, que é o número de anos necessário na precessão dos equinócios para o avanço de um grau na senda dos Doze Signos do Zodíaco — daí o Ano Platônico durar 25.920 anos, que é o tempo para o fechamento completo dos 360º do Zodíaco, 2.160 anos para cada uma das constelações. Voltando: 432 mil dividido por 72 é 6.000, enquanto 1.656 dividido por 72 é 23, de maneira que a relação entre os números é 6 mil para 23. No calendário judeu, de 365 dias, 23 anos são 8.400 dias, ou 1.200 semanas de sete dias. 1.200 multiplicado por 72 é 86.400, exatamente o dobro de 43.200. Repete-se: 1.656 é 72 multiplicado por 23 (anos); 23 multiplicado por 365 é 8.400 (dias), o mesmo que 1.200 semanas de sete dias; 1.200 multiplicado por 72 é 86.400, que é exatamente o dobro de 43.200. 432 é o número simbólico.
Tanto em Apocalipse 21:9–21 quanto no Gênesis temos a medida de tempo do Ano Extenso, simbolizado pelo número 432…
Em Apocalipse 21 esse número estará dado com exatidão nas medidas da Cidade: 12 mil estádios de comprimento, 12 mil estádios de largura e 12 mil estádios de altura (Três dimensões). As multiplicações de 12 mil por 12 mil e por 12 mil dão 1.728 bilhões de estádios cúbicos que, divididos pelo Quatro, resultarão em 432 bilhões. Eis, aqui, o Número! Com relação ao Quatro, os 12 mil das Doze Tribos estarão relacionados aos 144 mil anteriormente divisados. 432, pois, se dividido por 144, nos dará exatamente o Três. O 432 aparecerá ainda em Apocalipse 13:18, na trinca do 666, pois 6 x 6 x 6 é 216, a metade de 432. Como soubemos do seu simbolismo, o Número do Homem, Seis, deve ter relação com a imanência e o reino do quantitativo, ainda não completado pelo Sete. No Quaternário, o Dois é considerado um número demoníaco, porque é por meio dele que se cria a noção do “outro”, do opositor, “diabolos” — ele cinde o Um impondo duplicidade, dúvida, equivocidade e obscuridade, já que é um oposto. O Seis (Três vezes o Dois) ocupa o mesmo lugar que o Dois (1, 2, 3, e 4) na segunda série do Quaternário (5, 6, 7 e 8).
Falta agora resolvermos melhor a questão sobre quem de fato são os 144 mil (12 mil vezes 12), citados no início e no parágrafo acima. Os 144 mil selados, 12 mil de cada uma das Doze Tribos, nos devem remeter ao que está escrito em Ezequiel 9:2–6: eles serão marcados com o signo do Senhor para que não sejam abatidos pelos anjos de Deus quando do Juízo sobre os ímpios — uma repetição, também, da marca do Sangue do Cordeiro nos umbrais das casas dos hebreus do Egito, para que o Anjo da Morte não lhes matasse como mataria aos egípcios (Êx 12:29…). O sinal que está na testa dos justos de Jerusalém é chamado “tau”, comumente traduzido por “cruz”. Segundo Edinger, é bastante provável que a forma original do “tau” tenha sido mesmo cruciforme. No Urim e Tumim (Êx 39:8–21) eram postas, na face e no verso, a primeira e a última letras do alfabeto hebraico, álef e tau — álef para “culpado” e tau para “inocente”. Isso deve redundar no entendimento de que os marcados pela Besta estarão selados com álef, enquanto os justos estarão selados com tau.
Eles são descrito como tendo vindo da Grande Tribulação, por isso foram marcados pelo tau…
Edinger associará estes 144 mil, distinguidos da imensa multidão composta de justos de todas as tribos, povos, línguas e nações, aos últimos chegados de Apocalipse 7:13, vestidos de branco. Eles são descritos como tendo vindo da Grande Tribulação, por isso foram marcados pelo tau, ou com a Cruz, e como trajados da maior honra, porque suas vestes foram embranquecidas pela lavagem no Santo Sangue do Cordeiro de Deus — isto é: foram, no fim, martirizados, vertendo o Sangue de Cristo através de seu próprio sangue, na medida em que imitaram ou participaram da Morte do Senhor. No cristianismo primitivo, o neófito, uma vez batizado, submergido na água simbolizadora do Sangue da Morte de Jesus, era trajado com uma túnica branca, como ressurreto com Cristo para vir a ser Nova Criatura. Isso poderá significar, portanto, não exatamente o martírio, mas a passagem pela terrível Grande Tribulação, durante a qual muitos ainda serão alcançados pelo Senhor — talvez a Israel adormecida (Rm 11) -, sendo, então, batizados. Os Últimos, partícipes do Fim dos Últimos Dias, vítimas da máxima maldade e submetidos ao mais tenebroso dos tempos, serão revestidos de uma honra adicional — porque “os últimos serão os primeiros” (Mt 20:16) e a glória dos últimos será como a glória dos primeiros.
… referem-se, pois, à participação na matança dos inimigos de Deus.
Trajados de vestes brancas, lavadas no Sangue do Cordeiro Imolado, se seguirmos a imagética dos antigos cultos dos Mistérios, nos quais os fiéis se vestiam com as peles ensanguentadas dos animais sacrificados (daí o manto de Mitra ser escarlate), os 144 mil verdadeiramente se recobriram do Sangue do Senhor — estão, n’última instância, usando o mesmo manto de Cristo, “tinto de sangue” (Ap 19:13). Aliás, é a Apocalipse 19 que Edinger vincular Apocalipse 7, fazendo-o através de Isaías 63:1–6 e de Gênesis 49:10–11, porque destes dá para apreender um segundo sentido para as vestes tingidas de “sangue”: referem-se, pois, à participação na matança dos inimigos de Deus. É desse entendimento que Edinger verá entre as hostes celestiais, trajadas de linho fino, “branco e puro” (Ap 19:14), os 144 mil mártires e selados na Grande Tribulação, aos quais será dada uma derradeira honra, após o consolo diante do Trono do Senhor (Ap 7:17): a de, tendo sido julgado o Mundo, perpetrarem o Juízo vingador do Senhor.
Texto de minha autoria (como os demais deste canal) originalmente publicado em meu perfil pessoal do facebook em 11 de setembro de 2024.