Sobre o Milênio e o Silenciamento de Satanás
Um contraste com Adão, que caiu sob o conselho da Serpente
Há uma sutileza interessante na visão milenarista apresentada do livro dos Jubileus, a qual consideramos com certo pormenor anteriormente. O tempo da Árvore da Vida, que é o tempo do Éden, é medido em Um Dia Celestial, isto é, em Um Mil Anos (Sl 90:4), e o tempo escatológico do Povo de Deus será o tempo da Árvore da Vida do Éden (Is 65:22 — parte do principal texto veterotestamentário sobre o Milênio [repare no simbolismo edênico nele presente]). É parte do cabedal simbólico da apocalíptica judaica a ideia do Reino Global do Messias perdurando uma medida de tempo (o Milênio e suas diferentes interpretações) antes da Grande Batalha Cósmica Escatológica, tempo durante o qual Satanás, a Antiga Serpente do Mar, que estivera silenciado, retido pelo Katechon (2 Ts 2:6–7), terá permissão para atacar frontalmente ao Povo Santo.
Nos Jubileus, e essa parece ser a mesma tradição apreendida pelos apóstolos (Beale e Carson — Comentário do Uso do Antigo Testamento), a medida do tempo escatológico do Povo de Deus é Um Mil Anos, durante o qual o Reino Messiânico não encontrará obstáculos intransponíveis para a disseminação da Boa Nova — sejam naturais, sejam humanos (Mc 16:15–20; Mt 28:18–20). Durante esse tempo, Satanás, “caído como um raio” (Lc 10:18) quando da Elevação do Cristo, está derrotado. Esse período simbólico de Um Mil Anos corresponde ao tempo de uma era, que deve ser a Era Cristã, ou a Era de Peixes, inaugurada com a imolação do Cordeiro de Deus no Calvário. Nos Jubileus se reconhece o tempo escatológico do Povo de Deus como sendo uma recapitulação do tempo probatório do Éden, que o Primeiro Adão não completou, já que, tendo Caído pelo conselho da Serpente e expulso do Jardim, afastado, pois, da Árvore da Vida, lhe faltaram 70 anos para completar Um Dia Celestial, ou o tempo probatório. Sob o Segundo Adão e o silenciamento de Satanás, a Igreja, o verdadeiro Israel, está capacitada para cumprir cabalmente a medida dos anos da Árvore da Vida. Note bem: porque a Antiga Serpente, derrotada na Cruz, está silenciada e não pode aconselhar a Igreja como aconselhara a Adão — não para derrubá-la completamente.
… a Antiga Serpente está silenciada e não pode aconselhar a Igreja como aconselhara a Adão…
Isto parece ser mesmo assim do ponto de vista da escatologia apostólica, uma vez que imediatamente após a remoção do Katechon e a libertação de Satanás virá a Grande Apostasia da Igreja, tal como descrita em 2 Tessalonicenses 2:2–12, decorrente da autorização dada a Satanás para molestar a Igreja com a inflamação de todos os inimigos de Deus, externos e internos, pondo em operação o espírito do Anticristo e da Anti-Igreja, que está dentro da própria Igreja desde o tempo primitivo:
Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora. Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós. — 1 Jo 2:18–19
A função escatológica dessa soltura de Satanás e daqueles seus príncipes demoníacos que ora estão aprisionados numa “masmorra no Mar” (Is 24:21–23) será a da consolidação do sistema global anticristão e a coalização de Gogue, príncipe de Magogue, a qual contará com todas as nações da Terra, para a aniquilação do Povo de Deus (Ez 38–39 e Ap 20:6–10). Isto assim será para que, como antecipado pelo apóstolo Paulo em 2 Tessalonicenses 2:2–12, todos os ímpios e inimigos de Deus sejam aniquilados de uma só vez, reunidos que estarão sob um único estandarte — a Batalha Cósmica Escatológica, descrita repetidamente em Apocalipse 16, 19 e 20, redundará na vitória definitiva de Cristo Jesus Glorificado e de Suas hostes angelicais.
Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos.
E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão, e sairá a enganar as nações que estão sobre os quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, cujo número é como a areia do mar, para as ajuntar em batalha. E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada; e de Deus desceu fogo, do céu, e os devorou.
E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre. — Apocalipse 20:6–10
Texto de minha autoria (como os demais deste canal) originalmente publicado em meu perfil pessoal do facebook em 12 de agosto de 2024.